O conhecimento de Jesus Cristo, na fé e no amor, ultrapassa todo o conhecimento e leva-nos à plenitude de Deus. Este é o grande conhecimento que devemos procurar e cuidar. É um dom de Deus que também ultrapassa as nossas capacidades limitadas, mas que nos introduz no horizonte da plenitude. É a partir desta experiência profunda, desta profusão de graça, que se ilumina a experiência de fé de Paulo quando proclama a excelência do conhecimento de Jesus Cristo e a sua plena comunhão com o Mistério Pascal: Considero tudo uma perda em comparação com o bem supremo que é o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele, perdi tudo e considero tudo como lixo para ganhar Cristo... Trata-se de o conhecer, de conhecer o poder da sua ressurreição e de comungar com os seus sofrimentos. (Fil 3,8-11).
A graça de estudar o Evangelho
Encontramos o mesmo eco e o mesmo toque de graça nestas palavras do Padre Chevrier, que nos são tão familiares e que devemos também acolher com um espírito renovado, para que continuem a guiar e a orientar a nossa decisão de seguir Jesus Cristo: "Conhecer Jesus Cristo é tudo. Tudo está contido no conhecimento que teremos de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo .... Nenhum estudo ou ciência deve ser preferido a este. É o mais necessário, o mais útil, o mais importante, sobretudo para quem quer ser sacerdote, seu discípulo, porque só esta ciência pode fazer sacerdotes" (VD 113; cf. Carta 105; 129).
Este impulso, esta força interior que nos leva a Jesus Cristo, é um dom do Espírito que se enraíza e cresce em nós através do estudo assíduo e constante do Evangelho. É um estudo feito também no Espírito, que nos conduz ao verdadeiro conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por esta mesma razão, nós pradosianos devemos perguntar-nos hoje, como o Padre Chevrier: "O que é que temos de fazer? Estudar Nosso Senhor Jesus, escutar as suas palavras, examinar os seus actos, para nos conformarmos com Ele e nos enchermos do Espírito Santo" (VD 225).
É o grande trabalho que temos de fazer todos os dias. É a nossa primeira tarefa, e repetimo-la muitas vezes, evocando o Padre Chevrier. Temos consciência de que existe uma certa distância entre o desejo e a realidade. Facilmente procuramos razões e encontramos justificações para explicar um certo défice no estudo assíduo do Evangelho. Em nome da pastoral, do serviço aos pobres e às nossas comunidades, justificamos, por vezes, esta falta de esforço para nos dedicarmos ao conhecimento de Jesus Cristo, esquecendo que este é o primeiro passo sério, a primeira pastoral que vai apoiar e dinamizar toda a nossa missão evangelizadora. A paixão pela evangelização invadirá e preencherá a nossa vida se, na verdade, nos preocuparmos e cultivarmos a paixão por Jesus Cristo.
A prioridade do estudo do Evangelho
A busca da eficácia pastoral e apostólica tem o seu fundamento e a sua fonte no conhecimento de Jesus Cristo, como dissemos na Sessão sobre o estudo do Evangelho de julho de 2009: "A ação apostólica, para ser eficaz com a eficácia de Deus, deve nascer da escuta, da oração, do amor, do interior, isto é, da união e da conformidade com Cristo, o que pressupõe caminhar no Espírito de verdade e de liberdade.
Conhecer Jesus Cristo para ensinar bem o catecismo é a única coisa de que Antoine Chevrier e aqueles que partilham o seu carisma precisavam 1 ".
No atual contexto social, cultural e mesmo eclesial, se quisermos concentrar-nos na nossa missão e no nosso desejo de seguir o Mestre no anúncio do Reino, devemos prestar muita atenção à nossa ligação a Jesus Cristo, dando prioridade ao que é mais importante: "Conhecer Jesus Cristo e rezar são as primeiras coisas a fazer para se tornar uma pedra no edifício espiritual de Deus. Só o que está fundado em Jesus Cristo pode permanecer" (VD 103). Esta intuição e esta convicção profunda do Padre Chevrier são evocadas em várias ocasiões na vida da Igreja e foram assinaladas por Bento XVI: "Não há nada mais belo do que ser tocado, surpreendido pelo Evangelho de Cristo. Não há nada mais belo do que conhecê-lo e comunicar aos outros a amizade que se tem com Ele" (Sacr. Caritatis 84).
O estudo do Evangelho está em estreita união com o Espírito Santo, porque é uma experiência espiritual, isto é, um estudo feito à luz do Espírito. Esta é a grande experiência de Antoine Chevrier: "Quem são aqueles que têm o espírito de Deus? São aqueles que rezaram muito e o pediram durante muito tempo. São aqueles que estudaram durante muito tempo o Santo Evangelho, as palavras e as obras de Nosso Senhor, aqueles que trabalharam durante muito tempo para reformar em si mesmos o que se opõe ao espírito de Nosso Senhor" (VD 227).
A leitura e o estudo assíduo das Escrituras são fundamentais para a vida do discípulo e do apóstolo, e não são algo que se faça ocasionalmente, pois não se trata de frequentar o Evangelho de vez em quando, mas de mergulhar nas suas águas mais profundas, na mão do Espírito. Este estudo frequente e assíduo está intimamente ligado à oração. Ambos se reclamam e se enriquecem mutuamente. O fruto desta interação é a conversão que nasce do encontro com Jesus Cristo, da vontade de nos deixarmos conduzir pelo Espírito, que é a alma deste estudo, aquele que nos leva a entrar na luta e no confronto com o nosso próprio espírito e com o espírito do mundo. O Espírito coloca o discípulo num processo permanente de conversão e empurra-o pelo caminho da cruz, da obediência da fé.
É um apelo a renovar a nossa condição de discípulos de Jesus Cristo para que nos tornemos mais capazes de realizar a missão que nos foi confiada na Igreja e no Prado: "Anunciar aos pobres as insondáveis riquezas de Jesus Cristo".
No caminho do discipulado, aprofundaremos estas três dimensões: o conhecimento de Jesus Cristo, o estudo do Evangelho e a via-sacra. Este processo de aprofundamento teológico e de iluminação espiritual pode ser completado à luz da primeira coluna do Tableau de Saint-Fons, o Presépio, a comunhão com o Verbo Encarnado.
Ȇ Ser discípulo de Jesus Cristo é uma graça, mas também uma tarefa em construção, sempre inacabada. Tornar-se um com o Mestre e seguir os seus ensinamentos só é possível através do caminho de uma longa experiência de oração e de estudo espiritual da Palavra (no Espírito). Vivemos e cultivamos o nosso discipulado como uma verdadeira batalha espiritual
porque estamos conscientes de que a identidade e a ação do discípulo se formam no conhecimento de Jesus Cristo.
Estamos diante de uma graça que nos convida a cultivá-la. Precisamos de desenvolver e promover uma prática renovada de estudo do Evangelho, para conhecer, amar, seguir e anunciar aos pobres as insondáveis riquezas de Jesus Cristo no coração dos nossos presbitérios e comunidades.
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1 Brochura "Ó Cristo, deixa-me conhecer-te" (2011), p. 6.