Proposta de estudo do Evangelho
" O Espírito abre o caminho para a conversão missionária "(Actos 13-14)
O ESPÍRITO CHAMA E CONVERTE PARA SER UMA IGREJA SAMARITANA
- O Espírito constitui a Igreja Samaritana como uma comunidade de vida e de testemunho.
- Cristo prossegue a sua missão numa comunidade ministerial.
- Conversão missionária a uma Igreja Samaritana.
- A ação paciente do Espírito na preparação da conversão missionária.
- O Espírito abre o caminho para a conversão missionária (Actos 13-14).
O ESPÍRITO ABRE OS CAMINHOS PARA A CONVERSÃO MISSIONÁRIA (Actos 13-14)
Conhecemos Jesus Cristo pelo que fez e disse na sua vida histórica, como nos dizem os Evangelhos. Também o conhecemos pelo que fez na Igreja primitiva, depois da sua ressurreição. Mas também o conhecemos pelo que ele "fez os apóstolos fazerem". Esta "faceta" da realidade de Cristo é revelada no livro dos Actos, particularmente em algumas das suas páginas. Uma delas é a da primeira viagem missionária de Paulo, que ele iniciou acompanhando Barnabé e na qual se tornou gradualmente o principal protagonista.
Nesta primeira missão, os desafios da realidade pastoral e as respostas não eram claros à partida. Eles não sabiam o que iam ter de enfrentar. Estavam a caminhar em terreno desconhecido. Por isso, o papel do Espírito é ainda mais evidente.
Vamos conhecer Cristo, que enviou como apóstolos dois dos "mestres e profetas" da comunidade de Antioquia. E vamos conhecê-lo naquilo que ele os faz fazer, naquilo que os faz experimentar, nos seus êxitos e nas suas dificuldades. A nossa vida, que se reflecte neste caminho missionário, é também uma fonte de conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, através do que ele nos "fez fazer", através do que nos fez gozar ou sofrer, e através do modo como nos acompanhou em tudo.
O Espírito de Cristo prepara os discípulos para a missão.
No Evangelho, Jesus introduz os discípulos, tanto os 12 como os 72 (Lc 10), na ação missionária para continuar o ensinamento que já tinha iniciado com eles. Para ele, não há verdadeira formação que não seja confrontada com as dificuldades da missão. Do mesmo modo, nos Actos, o Espírito ensina e instrui a Igreja primitiva a partir da ação, da realização nascente da missão. Isto acontece durante a primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé. Assim, diante do "Concílio de Jerusalém" (Actos 15), graças ao ensinamento dos factos iluminados pela Palavra, eles descobrem a vontade de Deus, que é anunciar a mensagem a todos os povos.
No final da sua viagem, Paulo e Barnabé contam à Igreja de Antioquia o que fizeram e o que viram da ação do Espírito: "Quando lá chegaram, reuniram a Igreja e contaram o que Deus tinha feito por meio deles e como tinha aberto a porta da fé aos gentios". (Actos 14,27) O Espírito de Cristo torna-os participantes da própria obra de Deus: "o que Deus fez por meio deles".
O Espírito não se limita a ensinar, mas abre as portas à missão.
O resultado desta primeira viagem missionária é o facto de o Espírito ter aberto as portas da Igreja aos "gentios". Eles não o experimentam apenas como um ensinamento desconhecido, como uma ideia que não tinham compreendido bem antes e que tinham de aprender; para eles, o que aconteceu nessa primeira viagem é uma ação que cria algo de novo. Não se trata apenas de um ensinamento, mas, no seu trabalho missionário, o Espírito actua numa direção que eles não escolheram: "O Espírito tinha aberto a porta da fé aos gentios". Anteriormente, devido às condições concretas da realidade e dos discípulos, essa porta tinha sido fechada. A missão não consiste em ensinar verdades já estabelecidas, mas, através do nosso trabalho, terá um impacto na história e transformá-la-á. Não diz: "Descobrimos que Deus quer que partilhemos a fé com os gentios", ou "Aprendemos que a porta da fé sempre esteve aberta para os gentios". Não se trata de uma questão intelectual, em que a aprendizagem é o elemento-chave. Trata-se da ação transformadora do Espírito sobre a realidade. O Espírito está a fazer algo de novo, que eles testemunharam.
A perspetiva do ensinamento de uma verdade coloca-nos perante algo de grande e insondável que nunca poderemos compreender. A perspetiva da ação do Espírito faz de nós colaboradores e companheiros de Deus, descobrindo através da sua ação no mundo qual é a sua vontade. A primeira perspetiva transforma-se numa ideologia que impõe à realidade a verdade que conhecemos. E mesmo que tenhamos razão, é o Espírito que marca os tempos e os momentos em que a verdade deve tornar-se realidade. É por isso que a perspetiva da verdade tende a frustrar-nos, porque acreditamos que podemos impor a nossa ação voluntarista à realidade; pelo contrário, a perspetiva da ação do Espírito torna-nos humildemente pacientes, alegremente humildes, simples e disponíveis.
A missão brota do Espírito e os ministros põem-na em prática.
Até agora, a abertura aos gentios tinha-se baseado na experiência pessoal e nos impulsos do Espírito, através de Filipe, de Pedro e dos perseguidos em Jerusalém. Mas, neste momento, ela brotou de uma decisão do Espírito sobre a comunidade de Antioquia, na pessoa dos seus ministros.
"Ora, na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, irmão adotivo de Herodes, o tetrarca, e Saulo. 2 Um dia, enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse-lhes: 'Separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os chamei, e eu vo-los darei'." (Actos 13:1-2)
A configuração desta equipa de cinco profetas e mestres é interessante: um discípulo era colaborador dos apóstolos desde a primeira hora; dois vinham da diáspora, um negro nigeriano e outro da Líbia, do que hoje chamamos Magrebe; um quarto provinha de uma família próxima dos herodianos, ou seja, de uma família judaica poderosa e rica; e o quinto tinha sido um fariseu fanático, perseguidor dos cristãos e cidadão romano. A autoridade moral de Barnabé deve ter sido notável. Cristo, fiel à sua vida histórica, gosta de fazer "irmãos" daqueles que são diferentes. Que o grupo mais instruído e empenhado da comunidade, que acolhe fraternalmente os que são diferentes de si, que procura uma renovada fidelidade na fé a Jesus Cristo, seja o traço caraterístico de cada conversão missionária da Igreja.
A missão é descrita como "a missão do Espírito Santo" (Act 13,4), e os discípulos procuram abrir-se a esta função: "depois de jejuar e rezar, impuseram-lhes as mãos e enviaram-nos" (Act 13,3). Tudo o que acontece na missão deve, portanto, ser interpretado como obra do Espírito de Cristo que renova a sua Igreja.
O Espírito Santo desmascara a manipulação da fé.
O primeiro acontecimento significativo desta viagem missionária de conversão foi o confronto de Paulo e Barnabé com Elimas, o mágico, que se aproveitava da fé judaica para se fazer passar por profeta e ganhar a vida com a religiosidade e a credulidade do procônsul romano Sérgio Paulo.
Paulo, cheio do Espírito Santo, olhou para ele 10 e disse-lhe: "Homem de toda a falsidade e maldade, filho do demónio, inimigo de toda a justiça, quando deixarás de te opor aos caminhos rectos do Senhor? 11 Agora vê, a mão do Senhor cairá sobre ti e ficarás cego e não verás o sol durante algum tempo. (Actos 13, 9-11)
O que é que estes versículos nos dizem sobre a conversão missionária da Igreja?
- Os caminhos da conversão missionária não surgirão das velhas fórmulas que visam conquistar o favor dos poderosos através das superstições de uma religiosidade milagrosa e fantástica.
- A conversão missionária começa com a verdade e a justiça. A verdade de Deus, revelada na dinâmica da Encarnação, e a justiça para com os homens.
- A conversão missionária confronta-se com a manipulação da fé e denuncia-a resolutamente.
- A conversão missionária é misericordiosa e invoca a correção do castigo apenas "por um tempo".
Embora não fosse o alvo direto de Paulo e Barnabé, " Quando o procônsul viu o que tinha acontecido, tornou-se crente, pois ficou impressionado com o ensinamento do Senhor. "(Actos 13,12); e, sendo pagão, Sérgio Paulo foi um dos primeiros convertidos na sua viagem missionária.
A preocupação de não voltar a cair em interpretações supersticiosas da fé e de as desmascarar é de grande relevância para a nossa conversão missionária.
Um anúncio "contínuo" acolhido pelos pagãos
O primeiro discurso de Paulo, que nos foi transmitido a partir desta primeira viagem missionária, pode ser descrito como contínuo: dirige-se aos judeus na sinagoga para a qual foram convidados pelos seus chefes (Act 13,15); fala-lhes de Abraão, Moisés, David, João Batista e de como a vida de Jesus cumpre as profecias de todas estas figuras; anuncia a ressurreição e a justificação pela fé em Jesus.
Sabei, irmãos, isto: por Jesus vos foi anunciada a remissão dos pecados e de todas as coisas de que não pudestes ser justificados pela lei de Moisés; 39 por ele é justificado todo aquele que crê. (Atos 13:38-39)
A fé em Jesus completa as promessas da primeira aliança. Não há nada de novo, nem na mensagem nem nos meios utilizados para a transmitir. Paulo termina a sua exortação com um convite a ter fé e a não desprezar o poder de Deus, mesmo que as suas acções nos surpreendam.
Portanto, tende cuidado para que não vos aconteça o que os profetas predisseram [Hab 1,5]: 41 Assombrai-vos, arrogantes, e escondei-vos, porque farei no vosso tempo uma obra tal que não acreditareis, se vo-lo disserem (Act 13,40-41).
Um discurso simples, direto, compreensível para todos, impecável; com uma argumentação baseada na Escritura difícil de refutar, perante a qual qualquer judeu familiarizado com a Lei e os Profetas não pode deixar de se maravilhar. O argumento mais convincente é o texto do Salmo: "Não permitirás que o teu Messias se corrompa" (Sl 16,10). O mesmo aconteceu com Jesus Cristo, o Messias de Deus, quando ressuscitou dos mortos. A mensagem foi recebida com gratidão pelos judeus e gentios prosélitos.
Quando a assembleia da sinagoga se dispersou, um grande número de judeus e prosélitos que adoravam a Deus seguiram Paulo e Barnabé, que lhes falaram, exortando-os a perseverar na fidelidade à graça de Deus (Act 13,43).
No sábado seguinte, vendo o seu sucesso, os judeus, por inveja, opuseram-se-lhes e blasfemaram das palavras de Paulo. Os prosélitos gentios, pelo contrário, juntaram-se a eles. Barnabé e Paulo tiraram a seguinte conclusão:
Então Paulo e Barnabé disseram com confiança: "Nós devíamos pregar-vos primeiro a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais e não vos considerais dignos da vida eterna, sabei isto: voltamo-nos para os gentios" (Actos 13,46).
E assumiram esta mudança radical do ponto de vista teológico, não apenas por conveniência pastoral, mas com base no ensinamento dos profetas: "Eu designei-te como luz para as nações, para levares a salvação até aos confins da terra" (Act 13,47; Is 49,6). Começaram assim a aplicar à comunidade cristã, através dos seus apóstolos, a função do verdadeiro Servo de Javé de reunir o Novo Povo da Aliança. Os "confins da terra", na pessoa dos prosélitos, já tinham ouvido a palavra da salvação e tinham-na acolhido com alegria. Com uma alegria que é fruto do Espírito, porque resiste à contradição:
Quando os gentios ouviram isto, alegraram-se e louvaram a palavra do Senhor; e os que estavam destinados à vida eterna tornaram-se crentes (...) Os discípulos [gentios que se tornaram] ficaram cheios de alegria e do Espírito Santo" (Act 13,48).
As pessoas que aceitam o Evangelho com simplicidade num contexto de oposição e perseguição tornam-se um sinal da vontade de Deus.
A aplicação deste texto à nossa realidade pastoral atual pode ser confusa. É verdade que, na nossa situação, a aceitação ou não aceitação da nossa mensagem pode ter considerações diferentes devido à complexidade das variáveis. A nossa experiência pessoal da Igreja ou o ambiente anti-clerical ou anti-cristão em que fomos educados podem influenciar-nos. Mesmo as conotações ideológicas pelas quais as pessoas identificam o cristianismo com uma ideologia conservadora podem aproximar ou afastar algumas pessoas. Mas não podemos ignorar o facto de que o acolhimento do Evangelho num ambiente hostil é interpretado por Paulo e Barnabé como um sinal do Espírito.
Três sinais em contrário: a partida de João Marcos, a perseguição dos pagãos e a mentalidade idólatra grosseira.
Pouco depois do episódio de Barjesus, João Marcos abandonou a equipa apostólica (Act 13,13). Não há comentários sobre este acontecimento, mas quando Barnabé quis contar novamente com Marcos para a missão, houve um forte confronto entre Paulo e Barnabé, que levou à sua separação (Act 15,39). A partida do jovem João Marcos deve ter sido uma grande deceção no início desta primeira missão.
Um segundo sinal foi a participação dos pagãos na perseguição dos apóstolos. Em Antioquia da Pisídia, os gentios tinham acolhido a mensagem com alegria, mas em Icónio, tanto judeus como gentios acolheram o anúncio, para depois se voltarem contra os apóstolos com violência, maus tratos e apedrejamentos.
Os habitantes da cidade estavam divididos em facções, uns a favor dos judeus, outros a favor dos apóstolos. 5 Os gentios e os judeus, com as suas autoridades, procuravam maltratá-los e apedrejá-los. (Atos 13:4-5)
O ambiente hostil não desanimou Barnabé e Paulo, que "ficaram ali muito tempo" (Act 14,3), e só quando foram ameaçados de morte é que partiram para outro lugar.
Um terceiro sinal aparece depois de uma cura. Os mesmos acontecimentos são valorizados de forma diferente em culturas diferentes. Na cultura judaica, a cura dos doentes tinha sido para Jesus e os apóstolos uma ratificação e uma prova da credibilidade da sua mensagem (Act 5,15). O sinal de cura remete para o poder e a bondade de Deus: "Louvaram o Senhor, que dá aos homens o poder de realizar tais sinais" (Mt 9,8), e para o poder do enviado do Pai: "Foi o nome de Jesus que fortaleceu este homem que vedes e conheceis" (Act 3,16). Mas no ambiente pagão de Listra, o sinal da cura de um aleijado implicava, para a multidão educada no politeísmo grego, que Barnabé e Paulo eram encarnações de Zeus e Hermes. Quando os apóstolos se aperceberam de que lhes iam ser oferecidos sacrifícios, "rasgaram as suas vestes" (Actos 14,14). Este gesto exprime a rejeição visceral e profunda que sentiam em relação a esta manifestação.
Este acontecimento permitiu-lhes compreender a complexidade do processo de inculturação da mensagem de fé. Paulo viu naquele homem a fé necessária para a sua cura. Pediu-a ao Senhor e o Senhor deu-lha, o que deu alegria ao aleijado e ensinou aos apóstolos uma lição de inculturação. Depois de ter recuperado do choque inicial, Paulo tentou ligar o sinal da cura à ação do Deus único e vivo, criador de todo o universo, cujo sol, lua, estrelas e todos os fenómenos naturais não são deuses mas coisas criadas. Apresentou-o numa linguagem compreensível para o povo: "Trazemos-vos esta boa nova: deveis abandonar os ídolos vãos e converter-vos ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe" (Act 14,15). Mas o resultado foi escasso, pois "mal conseguiram dissuadir a multidão de lhes oferecer um sacrifício". (Actos 14,18).
Assim, em Icónio e Listra, encontramos uma série de ambiguidades: o sinal de boas-vindas dos pagãos é matizado; os pagãos interpretam as experiências de vida, como a cura, de uma forma muito diferente, o que lhes mostra que o abandono das crenças politeístas pode ser muito complicado para muitas pessoas, mesmo as de boa vontade.
A coragem de Paulo e Barnabé: o anúncio testemunhal do querigma.
Os judeus de Antioquia da Pisídia e de Icónio foram para Listra, onde tinham persuadido o povo a apedrejar Paulo, que o deixou como morto (Actos 14,19). Mas, longe de desanimar, depois de pregarem em Perge, voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia (Act 14,21) sem receio de perseguição, onde iriam ver os que tinham permanecido fiéis. Foram "encorajar os discípulos e exortá-los a perseverar na fé, dizendo-lhes que deviam passar por muitas tribulações para entrar no reino de Deus". (Actos 14:22)
Este gesto de regresso às cidades onde tinham sofrido perseguições mostra duas coisas muito importantes para o ministro na conversão pastoral:
1. A força que o Senhor dá àqueles que escolhe. Uma proclamação do querigma que não é apenas verbal, como uma mensagem, mas uma experiência de vida: eles recebem a morte e continuam a dar a vida. Paulo começa a compreender que a fraqueza da Cruz é mais forte do que a maldade dos homens (1Cor 1).
2. O apóstolo viveu de forma radical o mandamento do amor a Deus e ao próximo na sua missão (Lc 10). O seu amor incondicional por Jesus Cristo: testemunhou na sua vida que Jesus Cristo é mais importante do que a sua própria vida. A sua caridade pastoral para com os novos convertidos à fé cristã: por causa deles, expôs-se mais uma vez ao perigo e à perseguição.
A criação das primeiras comunidades como fruto essencial da conversão pastoral da Igreja
"Em cada igreja, constituíam anciãos, oravam e jejuavam, e recomendavam-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado" (Act 14,23). O livro dos Actos mostra assim o culminar da tarefa missionária após a conversão pastoral da Igreja. O facto de, após algumas semanas de pregação em cada aldeia, ter permanecido um pequeno grupo que manteve a sua fé em Jesus Cristo perante um ambiente hostil. Este foi um fruto importante, quase insuspeito; foi a ação do Espírito.
Era então necessário estabelecer a Igreja onde havia fé em Cristo e, para isso, nomearam anciãos com gestos de abertura à ação do Espírito: a oração e o jejum. Um novo ministério eclesial nasce da ação de conversão missionária, da simples necessidade de reforçar o pequeno grupo de crentes em cada aldeia. Este facto é tão importante que se sobrepõe a todos os problemas e dificuldades que tiveram de enfrentar.
Terminam a sua viagem em Antioquia, de onde tinham partido, "onde tinham sido confiados à graça de Deus para a missão que acabavam de cumprir" (Act 14,26). A missão já não pertencia à Igreja de Antioquia, mas a Deus; foi aí que foram confiados à graça de Deus. Os resultados ultrapassaram todas as ideias que tinham à partida.
Quando chegaram, reuniram a Igreja e contaram o que Deus tinha feito através deles e como tinha aberto a porta da fé aos gentios (Actos 14,27).
Assumir uma mudança pastoral e eclesial tão importante requer tempo para se afirmar e ser compreendida. Por isso, "ficaram muito tempo com os discípulos" (Act 14,28).
RESUMO
A ação do Espírito chega a seu tempo. Paulo estava há anos em Chipre, levando uma vida obscura, como se estivesse em "Nazaré". E foi quando Barnabé o reencontrou para um projeto missionário que a sua reflexão teológica encontrou o seu foco evangelizador. Os nossos tempos não são os tempos de Deus.
A ação do Espírito que transforma a Igreja é uma surpresa. Estava certamente preparada no universalismo da pregação profética e nas experiências de Pedro e dos que fugiam da perseguição em Jerusalém. Mas manifesta-se como um fruto inesperado.
A ação pastoral terá sinais e contra-sinais, mas a fé de um grupo de pessoas que se afirma num ambiente hostil e contrário torna-se o sinal definitivo.
A condição sine qua non para os apóstolos era valorizar cada pessoa como um filho de Deus, acima de todas as outras considerações. Assim, Paulo via o aleijado de Listra como uma pessoa deficiente, igual em dignidade e capacidade de fé aos doentes do povo judeu que Jesus tinha curado. A única condição para os adoradores do Senhor é adorar em espírito e em verdade (Jo 4). O aleijado que tem fé, mesmo que seja politeísta, é um homem à beira da estrada (Lc 10) cujo sofrimento o abriu à ação de Deus (Jo 5).
Fazei de mim, Senhor, um colaborador na ação do vosso Espírito para abrir as portas à evangelização.
José Joaquim CASTELLÓN MARTÍN (Prado d'Espagne) - setembro de 2024